Quinta-feira, 17 de Maio de 2007

Vejam lá como se portam comigo!! Senão...

PRAGAS DE MONTE GORDO E DA FUSETA
 
 
Recolhidas e anotadas por "Luciano Domingues"
Monte Gordo e Fuseta são simpáticas povoações do litoral Algarvio, muito conhecidas pelo seu bom peixe e aprazíveis praias de banhos, além de outros atributos de real interesse, menos divulgados.
 
Um aspecto hoje quase ignorado é o que respeita o "espírito das «pragas»" dos seus antigos habitantes.
 
Recheadas de malevolência, com exageros caricaturais, colorido estonteante, saber popular, por vezes com adjectivação mordaz e irreverente, estas pragas apresentam-nos quadros de hilariantes, inesperados e desconcertantes.
 
1 – Três Mulheres
 
Personagens:
 
1 – Inquilina
2 – Vizinha alcoviteira e intriguista
3 – Senhoria desumana
 
Acção:
 
A inquilina, não obstante os rogos, as insistências e as ameaças da senhoria, continua sem pagar as rendas.
A senhoria, indignada, destelha a casa da inquilina, aproveitando uma ausência desta.
A inquilina, intrigada pela vizinha, entra em conflito com a senhoria. As três mulheres envolvem-se em desordem que as leva ao tribunal.
Julgadas, o Juiz condena as três mulheres em multa de três contos cada.
No fim do julgamento, as três mulheres não podendo conter a sua indignação, rogam as seguintes pragas ao Juiz:
 
-          Inquilina – Não queria senão que ele fosse obrigado a comer três contos de milho de uma assentada só.
 
-          Vizinha – Pois não sabia engordar tanto que não lhe chegasse uma peça de pano para os cozes das ceroulas.
 
-          Senhoria – Só queria que a língua dele crescesse tanto que chegasse aonde chegam os lampaços do farol da barra.
 
 
 
2 – A Febre
 

Acção

 
Um zaragateiro embriagado provoca tal desordem que obriga a intervenção de uma praça da GNR, que acaba por detê-lo.
 
A mulher do zaragateiro, indignada, profere a seguinte praga contra a guarda:
 
Permita Deus que tenhas uma febre tão grande, tão grande, que até lhe derreta a fivela do cinto.
 
 
3 – O cúmulo da magreza
 
Permita Deus que fiques tão magro, tão magro que possas passar pelo fundo de uma agulha de braços abertos.
 
 
4 – Uma grande dor
 
Permita Deus que tenhas uma dor tão grande que fiques enrolado que nem um carro de linhas.
 
 
5 – Outra grande dor
 
Não sabia dar-lhe uma dor tão grande que nunca mais parasse, que quanto mais corresse mais lhe doesse e se parasse rebentasse.
 
 
6 – Um pouco de exagero
 
Praga pedida a um homem abastado, esmoler, que praticava uma caridade discricionária, contemplando uns e outros não:
 
Não sabia nascer-lhe um par de cornos tão grandes, tão grandes, que dois cucos a cantarem, cada um em sua ponta, não se ouvissem um ao outro.
 
 
7 – Para que não escapasse ninguém
 
Não sabia chover durante um mês inteiro mós de moinho sem olho.
 
 
 
8 – Para extinção da Humanidade
 
Num estado de desespero e de indignação contra o Mundo, um homem diz:
 
Não sabia chover durante oito dias pólvora e três dias fogo, sem parar.
 
 
9 – Como a banha
 
Uma garota brinca na rua, sob um sol escaldante. Uma vizinha chama a atenção da mãe da garota para o facto e seus riscos.
 
A mãe, já desesperada de chamar a filha, diz então:
 
Havia era de apanhar tanto sol que até se derretesse e fosse preciso apanhá-la às colheres como a banha...
 
 
10 – O figo de pita
 
Em linguagem antiga:
 
Uma tracção te dê nesse buraco do cu que tejas dar mês sem cagar e quando cagares só cagares figos de pitas inteiros.
 
 
11 – A um ganancioso patológico
 
Devia Deus dar-te tanto dinheiro que até chovesse em cima de ti tantas notas como bagos de areia há no fundo do mar.
 
 
12 – Uma praga que não podia produzir efeito
 
O velho Firmo, que o compilador destas pragas conheceu já em plena decrepitude, foi um lobo do mar, que consumiu muitos anos da sua existência em sucessivas campanhas de pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova.
 
Simples bonacheirão, mas sensível a problemas de relações humanas, fanhoso congénito, este homem não podia suportar as prepotências do capitão do seu navio.
 
Incapaz de qualquer reacção violenta, limitava-se a rogar-lhe pragas... ineficazes.
 
O próprio Firmo, já no declínio, com a sua voz arrastada, fanhosa, explicava porquê: "Há no céu um Santo que está sempre a dizer: Amén... Amén... Amén... Tudo o que se pedir na ocasião em que o Santo diz Amén é satisfeito. Pois de tantas pragas que lhe roguei, nenhuma acertou o Amén do Santo. Calhava sempre entre dois Améns...".
 
 
13 – O tampo do "pêto"
 
Praga rogada a um avarento:
 
Permita Deus que aches uma carteira cheiinha de dinheiro, mas quando te abaixes para a apanhar te caia o tampo do "pêto".
 
 
14 – Pouco mais de 36 toneladas
 
Praga proferida a pedido de um guarda (para fazer espírito):
 
Não lhe desejo mal nenhum, Senhor Guarda. Só queria que vivesse mais 100 anos e engordasse um quilo por dia.
 
 
15 – Um treçolho
 
Não sabia nascer-te um treçolho tão grande, tão grande, que até encobrisse o sol.
 
 
16 – Um bichoco
 
Permita Deus que tenhas um bichoco tão grande e tão ruim que todo o algodão que há no mundo não chegue para o tratamento.
 
 
17 – Num desafio de futebol
 
Lusitano de Vila Real de Santo António defronta o Benfica. A arbitragem desagrada aos visitantes. Então um espectador indignado profere praga contra o árbitro:
 
Não sabia dar-te uma dor de barriga tão grande que só cagasses pedra britada.
 
 
 
 
18 – Modo de aumentar a guarda
 
Praga proferida por um cigano a pedido de um guarda (com feição graciosa):
 
Só queria que aumentassem a guarda!
Aumentar a guarda?
Sim , fazendo dois de cada um!
 
 
19 – Falando de uma terceira pessoa que considerava abominável:
 
Não queria senão vê-lo enterrado até aos artelhos.
Só até aos artelhos?
Sim, só até aos artelhos, mas de cabeça para baixo.
 
 
20 – Morte de grilo
 
Praga de um cigano, a pedido de um guarda:
 
Não lhe quero mal, Senhor guarda. Só lhe desejo que tenha uma morte de grilo. Não me pergunte mais nada senhor guarda.
 
(Só muito depois é que o guarda soube que os grilos antes de morrerem ficam com as antenas enroladas).
 
 
21- O Canário Coxo
 
Só em casa, já tardiamente, o comprador dá conta que o canário que há pouco adquirira era coxo.
 
Muito indignado, profere então um chorrilho de pragas, recheadas de obscenidades.
 
Para o acalmar e evitar o pior, a mulher pergunta-lhe então: "Ouve lá, tu compraste o canário para cantar ou para bailar?"
 
 
22- O apito do galeão
 
No porto de Vila Real de Santo António o galeão apronta-se para sair para a pesca.
 
À hora marcada para a saída ainda falta um homem da companhia, este preferira faltar e arranjar depois desculpa verosímil, aceitável.
O mestre entende que não deve partir sem o pescador em falta. Manda apitar o galeão. Este apita , apita, apita insistentemente, e, por fim, desesperadamente, a chamar o ausente.
 
O pescador em falta, tudo entendendo, continuando com a mesma disposição mas já exaltado, diz então: Não sabia ele apitar tanto, tanto, tanto que até lhe saísse a caldeira pelo apito."
 
 
23-Para gastar os pés e as pernas
 
Em Monte Gordo, pai que precisava de ajuda urgente de filho ainda jovem procura-o insistentemente por toda  a parte, sem êxito.
 
Quando se encontram, já tardiamente, o pai interroga-o para saber  por onde andou .
 
Esclarecimento do filho: Tinha ido a Vila Real.
 
Razão da demora: ter ido e voltado a pé.
 
O pai desesperado, diz então: Permita Deus que tenhas de andar tanto que gastes os pés e as pernas até à cintura".
 
 
24 – O ladrão da Bicicleta
 
Rapazola sem recursos, entusiasta do ciclismo, é tentado por uma bicicleta que vê, aparentemente abandonada, junto duma casa velha. Entusiasma-se e vai dar umas voltas com ela.
 
O dono, ao regressar, não encontrando o veículo, profere praga que considera adequada: " Havia o ladrão de ser obrigado a andar 100 anos de bicicleta, sempre a direito, sem parar."
 
 
25- O Barril da Armação
 
Por questões fúteis, duas mulheres de pescadores discutem acaloradamente.
 
A mais arguta e benevolente, para rematar a discussão, diz: "Não te desejo mal nenhum, só queria é que tivesses tanto sossego na tua vida como o barril da armação."
 
(Trata-se de alusão aos barris que serviam de bóias nas armações e que estavam em constante agitação devido ao movimento das ondas).
 
 
26 – Um calor na boca do estômago
 
Nos bancos da Terra Nova, em plena faina da pesca do bacalhau, um "dory" abeira-se do respectivo lugar para descarga do peixe acabado de pescar.
 
O imediato do navio - a quem competia superintender no registo das pescas  individuais apresentadas a descarga manda devolver o conteúdo do "dory", para a apreciação do peixe trazido, neste caso pouco e miúdo.
 
Dado o pouco interesse deste peixe, o imediato manda-o deitar ao mar. O pescador opõe-se, recorrendo a diversos argumentos. Estabeleceu-se controvérsia entre o pescador e o imediato, rematando este, persistentemente, com a sentença:" Peixe ao Mar!"
 
O pescador, vencido, acaba por deitar o peixe ao mar, mas acto continuo, pragueja: "Que Deus lhe dê um calor tão grande na boca do estômago que até derreta chumbo a 500 braças de águas."
 
 
27 – O Forte de Castro Marim
 
Pescador, indignado contra outro, profere a seguinte praga:
 
-          Tantos raios e coriscos te caiam em cima como ovos são precisos para arrasar o forte de Castro Marim.
 
(Nota: trata-se do forte de S. Sebastião, poderoso baluarte construído no reinado de D. João IV, fronteiriço ao castelo da Vila).
 
 
28 – A "TARANTA"
 
No mercado do peixe, a freguesa de poucos recursos, quezilenta, resmungona e muito exigente, apalpa exageradamente sardinhas expostas para venda, a fim de se esclarecer acerca do seu grau de frescura.
 
O vendedor, que seguia atentamente a operação, já incontido, exalta-se e em tom de maldição diz para a ruim freguesa: "Havia de aparecer aí uma "taranta" que a picasse toda, p'ra você deixar de apalpar o "peixe", de uma vez para sempre.
 
(Nota: referia-se à tarântula, aranha venenosa, cuja picada pode ser mortal dentro de uma a duas horas, segundo consta.)
 
 
 
29 – A PESCA DO BACALHAU
 
À pesca do bacalhau, praticada nos bancos da Terra Nova e depois na Gronelândia, acorriam tradicionalmente várias centenas de pescadores da Fuseta, que, assim, conseguiam auferir proventos superiores aos obtidos na pesca costeira no Algarve.
 
Nos fins da década de 30 surge um conflito entre os pescadores e o órgão de tutela desta pesca, por alteração da forma de recrutamento dos tripulantes, acabando estes por ser submetidos a nova regras de recrutamento, a nova disciplina, não sem constrangimento e ressentimento por vários anos.
 
Com campanhas de longa duração (3,4 e 5 meses), em climas hostis (com temperaturas fortemente negativas), com iminentes riscos (grandes tempestades), com longo afastamento de espaço e tempo dos seus familiares, os pescadores sentiam com amargura e desespero a dureza desta vida, com a agravante das contingências de flutuação do volume de pescas conseguidas e concomitantemente das aleatórias remunerações (com base fixa reduzida e prémios de estímulo).
 
Em determinado ano infeliz, um pescador que pouco proveito tirou nessa campanha exprime o seu desespero, face à frustração que sofrera, com o subtil eufemismo, autêntica praga:
 
"Deus queira que quem me fez ir ao bacalhau tenha tanta saúde como aquele que saiu do hospital há mil anos."
 
 
30- Os ossos dos pobres
 
Em tempos idos, dois moços pobres filosofam sobre riqueza e pobreza.
 
A certa altura, surge o diálogo:
 
-          "Haveram" de morrer  os pobres todos!
-          -Para quê, pá?
-          -Para com os ossos dos pobres queimar os ricos todos!.
 
 
31 – Só no cemitério
 
Marido e mulher discutem, zangam-se acaloradamente, chegando a vias de facto.
 
O marido acaba por vencer, ferrando uma sonora bofetada na companheira.
 
A mulher, espumando de indignação e raiva, roga então uma praga ao marido:
 
"Permita Deus que toda a comida que hoje comeres vás amanhã cagar ao cemitério, já de olhos fechados."
 
 
32- A Ilha da Culatra
 
A acção decorre em tempos que já lá vão há muito, quando as corruptelas linguísticas e certo vocabulário específico, um tanto irreverente, eram frequentes no seio do povo anónimo.
 
Uma rapariga nova , namoradeira, muito leviana, engravida.
 
Quando começam a surgir sinais evidentes da gravidez, a família toma conta da ocorrência com mágoa, vergonha e preocupação.
 
Logo que tem conhecimento do caso, o pai indignado, tonitruante, insurge-se contra a filha:
 
" Grã puta da merda! Ainda uma criança e já com "filhes"!
 
Haveras tu de ter "tantes" como bagos de areia há na Ilha da Culatra!"
 
sinto-me:
publicado por Elsita às 12:04
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De Zé (do beco) a 17 de Maio de 2007 às 20:02
Olá Elsita.
Grande homenagem à cultura popular. Afinal a que mais contribui para a evolução da língua. Se toda a gente falasse correctamente, ainda hoje andávamos a guinchar, como os macacos (eheheh).
Tanto rais te parta como asas de mosquito, calcadas a malho, do céu à terra.
Beijinhos e saudinha da boa. Para ti e para todos os teus (incluindo o "Manelito", claro).
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